Vou discorrer um pouco sobre a história da "Dinastia Tudor" (a sequência de seis reis da família que dominou a Inglaterra todo o século XVI, de 1485 a 1603 - 118 anos, portanto) somente em caráter ilustrativo, porque a considero, realmente, muito importante (apesar de não ter nada a ver com o nosso tema específico).
É um período dominado por intrigas, enlaces e desenlaces por interêsse, julgamentos injustos, prisões, degredações, exílios, assassinatos, mortes, guerras, conquistas... e o cisma da Igreja Católica. Um período marcado pela forte mescla entre relações de amor, ódio e poder (do Estado e da Igreja).
A Espanha vive o seu auge ao longo de todo o século XVI (o "Século de Ouro" dos íberos). Havia recém conquistado a América, dominava os Paises Baixos, chegou a dominar Portugal e vivia grande florescimento cultural (com figuras como "El Greco" e "Miguel de Cervantes", por exemplo).
Já no início deste período, a Inglaterra corteja o seu poder.
Henrique VII assume o trono da Inglaterra em 1485 após por fim a trinta anos de conflitos pelo poder em seu país e que aconteceram ao longo dos reinados anteriores ao seu (de Henrique VI, Eduardo IV e Ricardo III). Foi a famosa "Guerra das Duas Rosas" entre a "Casa de Lancaster" (cujo símbolo era uma rosa branca) - à qual pertencia Henrique - e a "Casa de York" (cujo símbolo era uma rosa vermelha). Ao subir ao poder, Henrique, habilmente, propõe casamento a Isabel de York, unindo as duas famílias e dando início à "Dinastia Tudor", cujo símbolo é uma rosa com pétalas vermelhas por fora e brancas por dentro... Era um estrategista, o cara!!!
Henrique VII procurou restaurar as relações com a França e com a Escócia e, ainda formou aliança com o "Sacro Império Romano".
Por negociação de Henrique VII, a bela Catarina de Aragão (filha dos "Reis Católicos" da Espanha, Fernando e Isabel), casa-se, em 1502, aos quinze anos, com seu filho mais velho, Artur, então com dezesseis anos.
Cinco meses depois, Artur vem a falecer. Como o casamento não se havia consumado, o Rei, cuja esposa havia, também, recém falecido, não concede a Catarina o direito a viuvez, propondo-lhe casamento.
Ao saber que seus filhos não teriam direito ao trono, e sim, Henrique, seu ex-cunhado, seis anos mais novo, Catarina recusa o pedido, enfurecendo o Rei.
O embaixador espanhol, então, declara ao rei inglês que os reis espanhóis exigiam o casamento de Catarina com Henrique, então Príncipe de Gales. O Rei cede, sem a intenção de cumprir o compromisso assumido por uma criança então com doze anos.
Encantado por Catarina desde a infância e acreditando ser importante a aliança com a Espanha, especialmente, no entanto, aos dezessete anos, Henrique casa-se com Catarina. Na sequência, em 1509, ambos são coroados reis da Inglaterra.
A coroação de Henrique VIII foi a primeira pacífica em muitos anos. E... como o povo inglês parecia não aceitar muito uma sucessão feminina, Henrique VIII, precisava de um filho varão. Catarina ficou grávida ao menos cinco vezes, mas somente uma de suas filhas sobreviveu à infância, Mary (uma mulher... que azar!!!).
Desgostoso por não conseguir um filho homem com Catarina, Henrique VIII, já então envolvido com Ana Bolena - dama de companhia de sua esposa, Catarina, e irmã de sua ex-amante, Mary Bolena - pede a anulação de seu casamento ao Papa, mas não alcança seu objetivo...
Henrique VIII separa-se de Catariana, casa-se, então, com Ana Bolena, fazendo dela a sua rainha e rompe com a Igreja Católica fundando a Igreja Anglicana, comandada pelo Soberano.
Catarina vai viver em exílio...
A fundação da Igreja Anglicana, no entanto, não se deu somente pelas aspirações pessoais do Rei, mas constitui-se a formalização de uma reinvidicação antiga do povo inglês que, entre motivos de poder e de economia, nunca aceitara que a Igreja Católica fosse chamada de “Romana”. Coisa de ingleses... Enfim... questão era muito antiga e complexa.
Ana tem uma filha com Henrique VIII, Elizabeth (e na sequência, dois abortos). Nenhum homem... Azar, de novo!!!
Quando da separação de Catarina, sua filha única, Mary, até então considerada princesa, com sua própria corte e tudo... é deserdada, declarada bastarda, excluída da linha de sucessão e obrigada a tornar-se aia de sua meia-irmã, Elizabeth. Tal fato, traz indignação ao povo inglês, que não se conforma com tamanha desconsideração... Mary ganha a simpatia do povo.
Henrique VIII envolve-se, então, com Jane Seymour... e, na sequência, sob acusações inverídicas de adultério, traição e bruxaria, ele manda decapitar Ana Bolena. Casa-se com Jane, dez dias após morte de Ana e, finalmente, com Jane teve seu único filho homem, Eduardo. Jane morre, em decorrência de complicações pós parto, poucas semanas depois e passa a ser considerada pelo Rei como sua "verdadeira esposa" (por ter cumprido com o seu dever).
Henrique VIII deserda, e declara bastarda, também, Elizabeth, a filha de Ana.
O Rei casa-se, ainda, com Ana de Cleves, mas pede a anulação de seu casamento quando não mais tem interesses políticos no mesmo, fazendo sua esposa declarar que o mesmo não se havia consumado.
Casa-se, na sequência, com Catarina Howard, prima de Ana Bolena, que, após as mesmas acusações que havia feito anteriormente contra sua parenta... de adultério, infidelidade, e etc.... manda executar e na sequência... anula o casamento.
Foi Catarina Parr, a última das esposas de Henrique VIII, mulher de extrema candura, quem reaproximou o Rei de suas duas filhas, fazendo com que ele as colocasse, novamente, na linha sucessória, após o seu filho varão.
Com a morte de Henrique VIII, assume, então, o filho de Jane Seymour, que se torna, então o Rei Eduardo VI (em 1547).
O rei tinha saúde muito débil (provavelmente sofria de sífilis congênita adquirida de seu pai) e morreu de tuberculose aos 16 anos. Moribundo, sem deixar herdeiros, por questões religiosas, declara sua sucessora, Lady Dudley (Joana I), protestante e bisneta de Henrique VII, em detrimento ao direito sucessório de suas duas meio-irmãs...
O reinado de Joana I dura somente nove dias, pois Mary (católica, filha de Catarina de Aragão), meio-irmã de Eduardo VI, com apoio popular (que sempre havia tido), declara-se rainha em 1553 (Maria I).
Maria I tenta reinstalar o catolicismo na Inglaterra, perseguindo violentamente os protestantes, tendo, por este motivo, recebido a alcunha de "A Rainha Sanguinária". Ela casou-se com seu primo, o rei católico da Espanha (e fundador da "União Ibérica"), Filipe II, o que provocou a ira do povo inglês (pois que os espanhóis constituíam, certamente, um entrave ao crescimento inglês).
Com a morte de Maria I assume o trono sua meio-irmã, Elizabeth (I), filha de Ana Bolena, que reinstala o Anglicanismo e torna-se combatente de Filipe II, viúvo de sua meio-irmã (e pai da sua filha, Isabela, que ele tentou, infrutiferamente, colocar no trono inglês). Isabel I (como também é chamada Elizabeth) demonstrou todo o seu poder, pois o seu reinado (que durou 45 anos, de 1558, quando ela tinha 25 anos até a sua morte em 1603) é conhecido como “Era Dourada”. Foi um período de grande ascensão para a Inglaterra, marcado pelos primeiros passos no caminho da fundação daquilo que viria a ser o "Império Britânico".
A “Rainha Virgem” (como também era conhecida por nunca ter-se casado - ela abdicou de sua vida pessoal em prol de seu povo) empenhou-se no florescimento das artes (William Shakespeare é deste tempo), da navegação (Francis Drake é deste tempo), do comercio (a Companhia das Índias e a Bolsa de Londres foram por ela fundadas), da colonização, da indústria, da liberação dos costumes... Enfim... muito progresso!!!. Bem... Elizabeth é a responsável pela afirmação do Anglicanismo. Pelo Anglicanismo, inclusive, ela mandou decapitar Mary Stuart (a sua belíssima, sedutora e católica prima - e mais próxima sucessora), que fora rainha da Escócia, após esta ter sido acusada de conspiração - armada pelos espanhóis - para a sua derrubada.
Contando a história de Mary Stuart:
Mary Stuart, que era filha de Jaime V, rei da Escócia (país protestante) com a francesa Maria de Guise, fora educada (de forma católica) na Corte de Henrique II e Catarina de Médicis (do país de sua mãe) e fora, ainda, casada com o herdeiro do trono francês, Francisco, de quem ficou viúva pouco antes de voltar para a Escócia para assumir o trono, que já era seu, desde a morte de seu pai, acontecida quando ela tinha somente uma semana de idade. Mary Stuart tinha, portanto, fortes ligações com a França, e mais tarde, viu-se, também com a Espanha, países católicos e inimigos mortais da Inglaterra... Mary Stuart foi a Rainha católica de um país protestante. Ela casa-se, (1565) com seu primo, Henrique Stuart, também católico e aspirante ao trono inglês. Com ele tem um filho, Jaime.
Mary mantém amizade suspeita com seu secretário particular, o músico italiano David Rizzio, que é assassinado em 1566, provavelmente, por instigação de seu marido.
Ela fica, breve, viúva e três meses depois, casa-se com o Conde de Bothwell, tido como o assassino de seu marido, desagradando a nobreza, desconfiada de seu envolvimento na morte do próprio marido.
Ela é, então, presa e obrigada a abdicar em favor de seu filho, que se torna, então, Jaime VI, da Escócia, em 1567, com somente um ano (certamente, há aí, questões religiosas envolvidas, pois seu filho é educado como protestante).
No ano seguinte Mary Stuart escapou da prisão e tentou recuperar o trono, e, tendo sido vencida, foi abrigar-se na Inglaterra, onde Elizabeth a manteve prisioneira por 18 anos (mandando em seguida, decapitá-la).
Retornando...
Foi na sequência à decapitação de Mary Stuart, em 1588, que os Espanhóis, resolvem invadir a Inglaterra com sua "Invencível Armada", para depor a "Rainha Herética". Mas... graças a tempestades em alto mar e à coragem da "Marinha Inglesa", então formada por número muito inferior de marujos que a espanhola e por corsários despreparados, a Inglaterra vence a Espanha.
Começa o declínio do império espanhol... e afima-se o império inglês. Elizabeth foi a última soberana da dinastia Tudor.
Segue-se a "Dinastia Stuart" que dominou todo o século XVII (de 1603 a 1714 - 111 anos, portanto), com Jaime I, protestante, da Inglaterra (que já era Jaime VI, da Escócia) filho de Mary Stuart.
A ascenção de Jaime I ao trono foi pacífica, pois, como ele era protestante, estava de acordo com os interesses do Ministro Chefe de Elizabeth, Robert Cecil.
Jaime, filho de Mary Stuart, tentou unir os dois impérios, o escocês e o inglês, sem sucesso. Seguiu sendo o imperador de dois impérios separados.
Mas daí, já estou entrando na história da "Dinastia Stuart"... O filme “Elizabeth” (1998), com Cate Blanchet, trata do reinado de Elizabeth I e é, também, como o filme "A Outra", muito recomendável...
Então, só pra resumir: Henrique VIII, o mais famoso dos Tudor, teve seis esposas e três filhos legítimos. Todos os seus filhos legítimos sentaram-se ao trono.
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